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Identidade, saberes e força ancestrais

  As bonecas abayomi têm o seu valor como objeto de resistência do que sobre resiliência, por mostrar um ciclo da vida. Abayomi , uma das interpretações possíveis é “meu presente”, em yorubá, versão atual da boneca abayomi criada pela artesã Lena Martins na década de 1980, dentro de um contexto histórico marcado por diversos movimentos sociais. Além de gerar possibilidades por meio da criação de autoestima. Elas se tornaram um instrumento capaz de fomentar elementos de matriz africana na educação formal. Desse jeito, há o fortalecendo a autoestima do povo preto por meio da afetividade e reconstruindo histórias de pessoas marginalizadas das periferias da cidade, incluindo entre outros perfis do livro “As bonecas Abayomi no Brasil”, de Fabiana Alves, o de Lázara Bernardino de Jesus, a primeira yalorixá , noticiada nos meios de comunicação, portanto, ela faz parte da história de Presidente Prudente. Feita de retalhos, sem uso de cola ou linha, e dando um novo destino para o que primor
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Condição materna e opressão

Pelo poder de concisão e uso de uma linguagem coloquial, clara e destacando pela sinceridade dos poemas, Téte critica mirando especialmente nos valores estabelecidos há séculos pela sociedade, principalmente naqueles que limitam a liberdade das mulheres. Sua produção, entretanto, vai além de uma análise feminista, passeando por assuntos diversos, com leveza, lirismo, feminilidade, maternidade e, por outro lado, de forma densa. Há em sua obra Bicho mãe , a questão do ser mulher, deixando clara a sua marca, a resistência ao enraizado patriarcado machista e opressivo no Brasil. Através da leitura do livro, em especial o poema contundente Ao obstetra de plantão, demonstra-se que os poemas de Téte se enquadram com precisão no conceito de poesia de testemunho, tendo em mente que a autora em seu livro retrata a condição feminina, as misérias e as dores do cotidiano. O livro mostra a batalha árdua da mulher para ultrapassar os limites que lhe são impostos, tanto no espaço privado da vida do

A pintura das metamorfoses

  O artista que aqui surge, um homem complexo, inquieto, pelo qual sou atraído às suas pinturas. Em sua nova produção intitulada “Ponto de Mutação”, Nivaldo Gonçalves nos apresenta a sua intensa relação com a arte oriental e sua admiração pelos pintores abstracionistas: Manabu Mabe, Kinya Ikoma e Tomie Ohtake. Sua pintura se assemelha aos Kanjis japoneses, surgindo de forma espetacular ao deslizar a espátula sobre a tela. Suas obras se destacam no atual cenário das artes visuais prudentinas pela sua originalidade, ousadia e inovação. O título da exposição traz também reflexões muito interessantes: a crítica ao modelo acadêmico e tradicional de fato como base para grandes avanços no século passado, nos grandes centros, porém o resultado que hoje observamos no universo local e regional, nos mostra um cenário de pobreza cultural, alienação e desunião entre os próprios artistas. Daí, a necessidade de gestão e políticas públicas voltadas para o setor, como a criação de galerias de arte,

Compulsões fatais

    Dentre as formas prazerosas contemporâneas se destaca o prazer de comer, como uma das maneiras de driblar ou escapar do mal-estar na cultura Além de estar associada à qualidade de vida, condição de saúde e beleza, a alimentação tem despertado o interesse acadêmico, resultando em número crescente de publicações sobre os hábitos alimentares e os rituais a eles relacionados. Presentes nos momentos mais marcantes da vida em sociedade, estes hábitos e rituais permitem compreender melhor padrões de culturas e mentalidades como instrumentos de comunicação, metáforas de afeto, necessidades de pertencer, expressão de identidade. Na última década do século 20, a comida abriu portas para novos desejos, profissões, objetos de consumo, formas de relacionamentos, cerimônias de agregação, obras literárias e cinematográficas. Tornou-se cada vez mais evidente que, sob o domínio da linguagem, o comportamento de se alimentar extrapola o âmbito da necessidade e da nutrição. Tal comportamento me pa

Novos Herodes da tecnocracia

    O romance “O fruto de vosso ventre”, de Herberto Sales, trata de uma sociedade hipotética e futura, em que os problemas de superpopulação exigem que o governo intervenha na área da concepção, atingindo o extremo da sua total proibição. Por meios anticonceptivos rigorosos, e através do aborto compulsório em caso de falha, estabelece-se uma sociedade em que não existem mais crianças, nem tampouco a necessidade delas. O caminho para a realização dessa brutal utopia, no entanto, é a mais sórdida burocracia, baseada em leis, normas, regras, enfim, toda sorte de expedientes controladores dos mínimos atos do indivíduo. No caso, a classificação do estado civil das mulheres por pulseiras coloridas: a amante, a verde, a casada, a azul, e a solteira, a amarela. Mas essa burocracia terrificante não é gratuita: está intimamente ligada à estrutura econômica dessa sociedade, onde a produção passa a ser o objetivo supremo e o homem mero apêndice dela. São óbvias as relações entre essa socied

Informação ilhada

    O jornalismo impresso, tanto as publicações diárias e mensais, tem sido vítimas, nos últimos anos, de bombardeios ameaçadores. Desde as medidas restritivas em razão do Covid-19, as redações passaram por diversos processos de enxugamento de seu efetivo e de “reengenharia” em sua organização. Nesta década, a proliferação de sites noticiosos, inclusive nas próprias empresas de comunicação tradicionais, no mínimo congelou as equipes “off libe”. Combinada com o aperto e a consequente sobrecarga, cresceu a oferta de informações via internet, multiplicando-se, ao mesmo tempo, o trabalho de departamentos de comunicação das instituições ou empresas de maneira geral. Assim, criou-se uma padronização das notícias. A autonomia e o poder de influência dos jornalistas é posto em dúvida. Esses fenômenos constituem um quadro propício a um ineficiente “jornalismo de gabinete”. Ou seja: cada vez menos repórteres saem para a rua afim de apurar fatos. Em substituição ao contato real com os a

Mil(es)ton(e)s blue

  No momento de medo e de incerteza a dor calada nas faces esquálidas pelas barrigas secas. Os seres fitam o poço sem fundo do calabouço de suas próprias misérias dispersas nas selfies das ruas. Essa população desidratada vaga com compulsiva fome pelas toneladas de socos nos corações ilhados. Fome de comida, uma lânguida imagem que retrata seus espinhos e melancolia. Essa música urbana triste se empresta à meditação. A dor na base do caule desse blue flor de concreto. Esse sofrimento e desejo azul, são tentativas de descrever em seus níveis mais profundos, do blue e sua atração que vara reto absorvendo oblíquo o desespero, a distância social e a perda de intimidade, entre tons.